sábado, 17 de setembro de 2016

Oi (99)

Só pra registrar um acontecimento com energias mais positivas que a última vez que postei:
Estava voltando do rolê pra casa, e perto de uma esquina percebi que uma jovem senhora negra se aproximava ao meu encontro, com a expressão de que iria me parar.
Antes de ela me abordar eu vi que ela carregava uma cesta e conforme me aproximei, vi que era uma cesta de trufas.
Ser abordado na rua em Pelotas é uma coisa que sempre me deixa muito desconfiado (porque se tem uma coisa que aprendi nessa cidade, é que não dá pra abaixar a guarda com facilidade). Mas ela vinha na minha direção tão decidida e os nossos olhares já haviam se trocado há uns bons dez metros de distância, o que reduz um tanto a possibilidade de um assalto.
Ela me parou e falou alguma coisa que eu não entendi. Deduzi que ela estivesse me oferecendo trufas.
Olhei para a cesta e em cima das trufas havia um papelzinho com alguns preços. R$2,50 era o mais baixo listado e eu deduzi que fosse o valor da unidade.
Pus a mão no bolso descrente e descobri que eu tinha R$5, que eu tinha colocado no bolso no dia anterior, sem a menor perspectiva de gastá-lo. Era só o dinheiro do ladrão, caso fosse necessário.
Por que não?
Mostrei o dinheiro sem saber exatamente o que eu faria e ela me perguntou "troco pra cinco?"
Respondi: Não. Eu quero duas!
Dei o dinheiro e escolhi duas trufas. Uma de cereja e uma de morango.
Essa senhora abriu um sorriso lindo. Me agradeceu e me puxou para um beijo no rosto.
Eu fiquei sem reação e muito sem jeito, mas retribui o gesto.
Agradeci, desejei tudo de bom, boas vendas e me fui. Quase podia ouvir a felicidade daquela senhora enquanto nos afastávamos, mesmo ela estando em silêncio.
O que sei dessa senhora é que ela tinha uma cesta de trufas, parecia ligeiramente alcoolizada e cheirava a cigarro.
Eu não sei o background dela. Não sei a sua origem, a sua história, os problemas que ela tem de enfrentar. Provavelmente não a verei de novo.
O que sei é que, de alguma forma, alegrei o dia daquela senhora. E ela alegrou o meu também.


sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Oi (98)

Se você me segue no Twitter, você deve saber que tem uns meses que eu to na bosta.
E eu to muito puto enquanto escrevo, então provavelmente tudo vá soar dez vezes pior do que deve ser.
Se bem que foda-se, né? Porque na verdade tudo é sempre menos pior do que a gente sente.
É assim que os adultos fazem a gente perceber que o universo não se importa com o nosso sofrimento e que é melhor a gente sofrer quieto.
Engraçado, né? Eu ainda falo "os adultos" como se eu fosse super pré-adolescente e tivesse todo um percurso antes de chegar na fase adulta...
Deve ser porque eu nunca aceitei a vida adulta e fico sofrendo com os problemas advindos disso.
Na verdade, se tivessem me explicado o que era ser adulto e me dado a escolha de nunca me tornar um, acho que eu não estaria aqui escrevendo esse lixo.
O embaçado de ter que amadurecer é que não me deram a escolha. Simplesmente é minha obrigação...
Talvez o maior erro dos meus pais tenha sido me dar a possibilidade de escolher,  ao invés de simplesmente me obrigar a fazer o que eles achassem que era melhor. Desse jeito, eu cresceria seguindo ordens e perfeitamente quadrado pra esse mundo bosta que é o nosso.
Seria só mais uma engrenagem da bosta do sistema, sim. Mas que que adianta não querer ser uma engrenagem e ter que ser mesmo assim?
É, pai e mãe. Me perdoem, mas eu sou um fracasso.
Sou um punhado de fracassos e doenças mentais acumulados num corpo ocupando espaço e gastando recursos naturais e financeiros.