quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Oi (131)

Saí do apartamento para levar o lixo
As luzes da escada se ascenderam logo antes de eu sair pela porta
Andar por andar, as luzes se ascendiam antes que eu passasse
A porta no térreo bateu antes que eu chegasse a ela
Passei pela porta e vi, em carne e osso, uma moça
Ela subia o estacionamento, rumo ao portão
Eu, logo atrás, subia rumo à lixeira do condomínio
Ela usava uma legging estampada, uma camisa preta simples
Calçava um tênis preto, nenhum modelo específico, e tinha uma bolsa discreta nas mãos
Eu não fui silencioso nos meus passos, mas ela não se virou
Caminhava firme
Cheguei à lixeira, deixei meu lixo e fui embora
Lancei um olhar ao portão, antes de descer o estacionamento para voltar
Ela já estava fora do condomínio, na rua escura

terça-feira, 8 de janeiro de 2019

8 de janeiro, 22:54

Em uma das propagandas de The Good Doctor que passa na Twitch, o protagonista (que é autista, acho, nunca assisti a série) Shaun Murphy expressa a outro personagem a frase "I don't know how I feel".

A expressão de Shaun Murphy é de quem sofre por não conseguir lidar com seus sentimentos, mas a entonação parece dura e confusa (que imagino que seja um traço de como autistas verbalizam? considere que eu to falando de uma série que eu não vi e sobre uma doença que eu não conheço... autismo sequer é chamado de doença?)

Por conta do que me parece característica de uma doença (o conflito entre o tom da voz e o conteúdo da fala somada à expressão facial) eu questiono se entendi o contexto correto da cena (uma cena que eu não vi de fato).

Por ser uma propaganda, esta deve ser muito precisa em evocar os sentimentos que a série trás através de uma narrativa muito mais longa e detalhada. E sabendo disso, talvez eu me sinta intimamente o conflito daquele personagem, naquele contexto que conheço.

Sempre que essa propaganda passa por mim, eu sinto esse conflito sobre o que o protagonista sente e isso me atinge de forma difícil de explicar: Fico pensando sobre emoções, como lidamos com elas, me questiono se talvez eu não tenha entendido certo, se o ator é tão bom que em uma frase consegue questionar tudo que eu sei do espectro autista (que infelizmente não é muito), se o ator é autista, que pra mim é relevante (ou se outras pessoas da produção são autistas).

E apesar de tudo isso que eu sinto, segundos depois eu já me distraí desse mar de dúvidas facilmente respondíveis.

É uma experiência que vem e vai, num ciclo.