Eu estou escrevendo para falar sobre um pouco sobre os pensamentos que busco replicar na minha produção artística. Consequentemente, estes são os pensamentos que fomentam a minha produção.
No decorrer da minha vida acadêmica, eu aprendi um pouco mais sobre mim mesmo e, mais recentemente, sobre a relação do ser humano com o dinheiro (seu próprio dinheiro, a idéia de dinheiro, o objeto dinheiro). Esse aprendizado rendeu as duas obras que vou discutir aqui (o Coletor e um jogo ainda sem título, doravante chamado de O Jogo). Assim:
O Coletor foi pensado referente ao meu desejo de guardar minhas lembranças e meus pensamentos. O resultado é um objeto em forma de cubo, com 15cm de aresta, transparente na sua versão de galeria e vermelho na versão para espaço público, onde são depositados pensamentos, interesses e lembranças.
Para fazer o seu "depósito" o participante deve escrever a lembrança, o interesse ou o pensamento em uma folha de papel, que fica disponível ao lado do Coletor, e colocá-lo no objeto.
Esse conjunto de depósitos deve ser organizado para consulta posterior, e até mesmo gerar nossos pensamentos, lembranças e interesses. Dessa forma:
- Uma lembrança, se não for compartilhada, desaparece com o tempo e será como se nunca tivesse existido. Portanto ao ser colocada no Coletor ela ganha materialidade e a possibilidade de existir na mente de cada indivíduo que lê-la. Apesar disso, cada indivíduo visualizará uma cena que não corresponde à original depositada. Isso não torna as lembranças geradas menos verdadeiras, mas sim novas possibilidades de como aquele ocorrido poderia ter se passado.
- Toda pessoa é capaz de falar sobre algo que tem interesse, mesmo que seja analfabeta e mesmo que fale de modo simples. Quero dizer, todos somos dotados de algum pensamento que podemos transmitir. O que busco com o interesse alheio é saber sobre as coisas que essas pessoas têm a transmitir. É me posicionar como ouvinte da sabedoria alheia e disponibilizar essa carga de conhecimento.
- Costumo pensar que o pensamento humano é gerado em "pulsos" antes de ser raciocínio. Então cada pulso é capaz de gerar uma quantidade de outros pulsos em paralelo, dos quais apenas um será o nosso próximo pensamento (ou pulso). Com essa coleta viso descobrir esses pulsos específicos que ficam na raiz do surgimento do raciocínio, para poder gerar novos pulsos e raciocínios.
Sobre O Jogo:
Conforme aprendi a lidar com as questões financeiras da vida adulta passei a prestar mais atenção, até mesmo questionar às vezes, à relação das pessoas com o dinheiro. Passei a perceber a importância, a onipresença, do dinheiro. Essa observação e eventuais questionamentos, num momento de epifania, geraram um jogo de azar.
Esse jogo simula de maneira muito básica e pouco lúdica o processo de enriquecimento de um indivíduo que começasse um negócio próprio e cujo único objetivo fosse enriquecer. O jogador joga sozinho (apenas acompanhado do mediador e possíveis espectadores) e tem como único obstáculo a própria sorte.
Em cada turno (que representa o decorrer de um mês) o jogador recebe o lucro da sua empresa. Esse lucro aumenta conforme o jogador progride no jogo.
O elemento que representa a sorte do jogador são os dois dados de dez faces (também chamados d10) que indicam se o jogador perdeu dinheiro por algum motivo qualquer, não explicitado.
O jogo no seu processo tende a incitar conversas e reflexões acerca do dinheiro, o seu valor social, o seu poder sobre as pessoas e essa interação é o foco da obra. Como se o jogo fosse uma desculpa para justificar conversas sobre esse assunto, que fica despercebido no nosso dia-a-dia.
E esse, meus amigos, é o fruto das reflexões que eu tenho trabalhado. Espero com esses trabalhos incitar pensamentos críticos, e espero principalmente ter boas trocas com os participantes destes projetos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário