Eu estava lendo esse artigo (clique aqui) e formulei alguns pensamentos enquanto lia. Gostaria de apresentá-los aqui:
Bom, vou decompor um pouco do texto para poder dividir meus pensamentos de maneira adequada. Então, começando logo da primeira frase "Se você é homem, você faz parte da cultura do estupro.".
Não. Eu não faço parte da cultura do estupro.
A explicação dada no texto é uma forma muito conveniente e genérica de apontar todos os homens como os causadores da desigualdade entre os sexos e é tão machista quanto o imaginário que ela tenta combater.
Ora, se todos os homens contribuem inevitavelmente para a cultura do estupro por serem homens, nada há de ser feito pra resolver o machismo, porque, afinal, todo o tempo nascem homens que inevitavelmente contribuirão com a cultura do estupro.
Essa justificativa é infantil e mal-elaborada.
Se seguirmos a mesma lógica, a única forma de combater o racismo é se livrando dos brancos. Porque afinal, eles são brancos e naturalmente são melhor recebidos pela sociedade.
Seguindo o texto, o autor explica que o estupro também pode ser praticado de homens para homens e de mulheres para homens.
Mantendo a lógica apontada anteriormente, estes homens, estuprados por outros homens e/ou mulheres, também são mantenedores da cultura do estupro. E essas mulheres estupradoras, inclusive de outras mulheres, não o são, pois são vítimas de tal cultura.
Um pouco ilógico, não?
A seguir o autor conta de suas táticas para se mostrar um homem amigável e inofensivo, afim de não deixar incomodada uma mulher que esteja próxima a ele, além de falar um pouco sobre a situação social da mulher (a mulher vítima, nesse caso, não a agressora).
Encontramos um ponto de acordo meu com o autor, e essa concordância se estende até os tópicos do que fazer sobre a cultura do estupro, ainda no plano ideológico.
A maior discordância vêm agora, nas recomendações de ação caso se depare com uma situação opressiva.
"Homens podem confrontar outros homens"
Ué? Mulheres não?
Nesse tópico o autor diminui a mulher e a trata como figura indefesa. Ela é tão vítima que precisa de um homem para ajudá-la a confrontar outro homem.
E quando ele cita o casal gay, ele também gera uma situação machista pois presume que um dos lados seja fraco e eventualmente precise reforço.
Novamente, se for uma mulher agredindo um homem? Não é uma situação igualmente merecedora de apoio?
Nenhum confronto é bom, seja entre casal, seja entre amigos, seja entre desconhecidos.
Uma das coisas que sempre depôs contra o Feminismo pra mim é o fato de que, desde o seu nome, o feminismo fala da luta das mulheres pelo seu direito de igualdade. Mas numa sociedade machista que muitas vezes desconsidera o indivíduo (homem) negro ou gay, por exemplo, como outro ser humano, que dirá das mulheres negras? Que dirá dos gays negros? Que dirá das mulheres pobres? Que dirá dos homens afeminados?
O conceito que eu nunca vi posto nos argumentos feministas (salvo quando ditos por pessoas muito mais cientes da vasta realidade e variedade humana) é o de que pessoas são pessoas, e (com o perdão da expressão) foda-se se são mulheres, homens crianças ou qualquer outro.
Pessoas são pessoas.
Seguindo em frente.
"Homens podem corrigir outros homens"
Com esse título e a argumentação dada de novo o autor inferioriza a mulher, dá a entender que uma mulher não é capaz de corrigir a postura de um homem, pois ela é fraca e indefesa.
"Homens podem mandar outros homens calarem a boca"
E igualmente as mulheres.
Uma conhecida minha estava num ponto de ônibus certa vez, sozinha, e um homem lhe passou a mão na bunda. A reação dela não foi outra se não se virar e socar o agressor até parar com dor na mão.
Ela se defendeu absolutamente sozinha e deixou seu agressor atordoado.
Esse homem com certeza pensou duas vezes na próxima tentativa de estupro.
Mulheres e outras vítimas de violência só estarão seguras quando se puserem ao nível do agressor e reagirem à agressão.
Não precisa ser violência física, pode ser processo, violência verbal, ameaça, o importante é conhecer as suas "armas" e saber usá-las.
Não só precisamos educar os homens (ou outros agressores possíveis) a respeitar a mulher (ou outra vítima possível). É preciso também ensinar a vítima a se defender e conscientizá-la de sua capacidade defensiva.
Agora ao final do texto o autor finalmente defendeu a idéia que ele deveria estar defendendo desde o início.
"Não se limite a ser um homem. Seja uma pessoa íntegra. Seja um ser humano."
Essa, acima, é a mensagem que o Feminismo deveria passar, a começar por uma outra nomenclatura e a aliança com outros movimentos por minorias, como o movimento LGBT (que em si também precisa abraçar a causa de outros grupos sexuais não identificados na sigla) e os movimentos raciais.
Por exemplo.
Haverão outros movimentos de minorias surgindo e esse grande movimento maior (quer preza pela igualdade entre os seres humanos para os seres humanos) deve abraçá-los, pois são todos humanos.
P.S.: Pra quem não sabe, eu tenho uma birrinha com o Feminismo. Concordo com sua idéia geral proposta, mas vejo que há muita discriminação dentro do próprio feminismo com outras causas sociais.
Sendo um movimento que se afirma a igualdade entre as pessoas, eu considero no mínimo contraditório que o movimento fale tanto em cultura do estupro e patriarcado, como se o estupro fosse a única consequência da violência de gênero e o machismo não agredisse também uma parcela de homens que não se enquadram no esteriótipo de "macho".
Vale lembrar que toda essa construção teórica foi elaborada por mim, com base no que eu sei, vi e ouvi. Se você sabe algo que pode melhorar a minha visão sobre o tema, você DEVE me deixar um comentário explicando a coisa do seu ponto de vista.
Obrigado pela leitura :)
2 comentários:
Muito bom o texto Cauê, concordei com tudo, no entanto, seria interessante abordar esses tópicos na próxima vez que formos filosofar sobre qualquer coisa, tenho a minha própria opinião sobre o feminismo, mas dialogo melhor pessoalmente, Abraços!
anotado :)
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